Os Maracatus e Afoxés são manifestações culturais afro-brasileiras que combinam música, dança e religiosidade, sendo fundamentais para a preservação das tradições de matriz africana no Brasil. O Maracatu, originado em Pernambuco, tem raízes nas coroações dos reis do Congo e se caracteriza pela percussão intensa e cortejos solenes. Já os Afoxés, fortemente ligados ao candomblé, são conhecidos como “candomblé de rua” e utilizam cânticos em iorubá e ritmos sagrados para louvar os orixás. Ambos desempenham um papel importante na valorização da cultura afrodescendente e na resistência contra a marginalização das tradições africanas no país.
O Maracatu Az de Ouro que já existe a quase 90 anos, foi criado em 26 de setembro de 1936 por Raimundo Alves Feitosa, popularmente conhecido como Raimundo Boca Aberta. Com a ajuda de seus irmãos e amigos Raimundo criou o grupo de maracatu para o Carnaval de Fortaleza. Sua primeira aparição pública foi no beco do aperto, atual cruzamento entre a Rua Visconde do Rio Branco e a Avenida Aguanambi no Centro de Fortaleza.
Já no ano de 1937, o Maracatu foi convidado para participar pela primeira vez do Carnaval de Fortaleza ainda em seu início com apenas 42 integrantes. Entre os anos de 1937 a 1950 ele permaneceu sendo o único Maracatu a desfilar no carnaval de rua fortalezense. O Az de Ouro se consagrou como campeão do carnaval de rua de Fortaleza por 8 anos seguidos, entre 1970 e 1978, com a direção do compositor Joaquim Pessoa de Araújo (Mestre Juca do Balaio).
O Maracatu Az de Ouro faz parte da Cultura Popular e Tradicional de Fortaleza e do Estado sendo premiado e reconhecido em diversas ocasiões como em 2010 onde foi premiado com a Medalha Lauro Maia concedida pela Câmara Municipal de Fortaleza a artistas e instituições que se destacam no cenário musical na cidade, em 2018 onde recebeu o título de Tesouro Vivo da Cultura do Estado do Ceará e em 2020 onde foi escolhido como homenageado pelo Estado do Ceará no XIV Edital Ceará Ciclo Carnavalesco, promovido pela Secult.
Atualmente o Maracatu Az de Ouro possui uma sede localizada no bairro Jardim América, tendo na Presidência Lucineide Magalhães, Vice-Presidência Leandro Teixeira e como Diretor de Carnaval e Secretário Executivo Marcos Gomes.
No ano de 2025 completa 89 anos de existência, sendo o Maracatu mais antigo da Cidade de Fortaleza e do Estado do Ceará, no mesmo ano esteve presente nos desfiles da Avenida Domingos Olímpio homenageando a comerciante e revolucionária brasileira Bárbara Pereira de Alencar, uma mulher que foi a primeira presa política do Brasil e é considerada uma heroína da Revolução Pernambucana e da Confederação do Equador, apresentando sua trajetória e sua importância na luta por direitos a igualdade, com o tema de “Bárbara Guerreira, Flor do Cariri”.
Fonte: Instagram @maracatuazdeouro1936, 2025
O Maracatu Solar é uma expressão cultural que se consolidou como uma das mais importantes manifestações do maracatu cearense. Criado em 2006 na Associação Cultural Solidariedade e Arte (ACSA), localizada no bairro Benfica, o grupo surgiu com a missão de valorizar e preservar essa tradição, ao mesmo tempo em que forma novos brincantes na cidade de Fortaleza. Seus idealizadores foram Pingo de Fortaleza, Descartes Gadelha, Alan Mendonça, Tieta Pontes e Regina Elisabete, todos comprometidos com o fortalecimento da cultura popular.
Com uma forte fundamentação histórica, o Maracatu Solar tem como referência o Maracatu Az de Ouro, o mais antigo da cidade, fundado em 26 de setembro de 1936 por Raimundo Alves Feitosa, conhecido como Raimundo Boca Aberta.
Dentro desse cenário de valorização do maracatu cearense, destaca-se a trajetória de Pingo de Fortaleza. Natural de Fortaleza, ele é cantor, compositor, músico, escritor e pesquisador cultural, com uma carreira de mais de 39 anos. Autor de 30 discos e três livros, incluindo “Singular Plural – A História e a Estética do Maracatu Cearense Contemporâneo”, Pingo já foi brincante do Maracatu Az de Ouro e atualmente coordena o Maracatu Solar. Além disso, ele é responsável por projetos como “Pérolas do Centauro”, que resgatam e preservam a memória da música popular cearense.
Atualmente, o Maracatu Solar segue cumprindo seu papel de promover a cultura e a tradição do maracatu em Fortaleza, marcando presença no desfile da Avenida Domingos Olímpio e contribuindo para a formação de novas gerações de brincantes e mantendo viva a chama dessa expressão tão rica da identidade cearense.
Fonte: Instagram @maracatusolar, 2025
O Afoxé Omorisá Odé foi fundado em 12 de junho de 2016 no Ilê Axé Abarewá, como uma expressão cultural e religiosa ligada ao culto ao orixá Odé (Oxóssi). Seu fundador, pai Marcos Amorim, teve sua trajetória iniciada na Umbanda sob a orientação de pai Almeida do Caboclo Quebra Barreira, onde permaneceu por 26 anos à frente do Centro Espírita Reis Tupinambá. Após sua feitura no Candomblé, sob a preparação e catação do babalorixá pai Virgílio de Omolu, pai Marcos deu início a um novo capítulo em sua jornada espiritual, estabelecendo o Afoxé Omorisá Odé, cujo nome significa “Filhos do Orixá das Matas”.
O afoxé, de origem Yorubá, é traduzido como “a fala que faz” e suas melodias são oriundas dos cânticos e orôs entoados nos terreiros afro-brasileiros de tradição jexá. Mais do que um bloco carnavalesco, o afoxé é reconhecido como um “Candomblé de rua”, reforçando sua profunda ligação com as manifestações religiosas dos povos de terreiro. No caso do Afoxé Omorisá Odé, sua existência fortalece a cultura afro-brasileira e abre espaço para a valorização da identidade negra em Fortaleza.
Localizado no bairro Granja Lisboa, o grupo promove reflexões sobre consciência negra e liberdade por meio da música e da cultura. Seu repertório, de autoria própria, exalta a resistência, a religiosidade e a beleza da raça negra, enquanto suas cores — azul, verde, branco, dourado e prateado — representam a simbologia de sua espiritualidade e força.
Além de sua atuação nos cortejos, o Afoxé Omorisá Odé se destaca como um movimento social que investe na transmissão de saberes para novas gerações. A entidade desenvolve oficinas de percussão, dança, costura e estamparia, integrando um amplo projeto sociocultural que busca a valorização das tradições afrodescendentes e o fortalecimento da comunidade.
No ano de 2025 o Afoxé Omorisá Odé se consagrou tetracampeão do concurso de afoxés no desfile da Avenida Domingos Olímpio firmando-se como uma importante manifestação cultural e política do povo negro em Fortaleza, levando adiante os ensinamentos e os ritmos dos terreiros para as ruas, promovendo o respeito e a valorização da ancestralidade afro-brasileira.
Fonte: Instagram @afoxeomorisaode, 2025